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08 março, 2012

'É preciso mudar a cultura machista baiana', diz secretária Lúcia Barbosa

'É preciso 
mudar a cultura machista na BA' (Divulgação)
Há quase um ano, as mulheres baianas contam com uma secretaria dedicada a elas. Coordenada pela militante do Movimento Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Vera Lúcia Barbosa, a Secretaria de Política para Mulheres, tem como foco questões que envolvem assuntos como a busca pela igualdade de gênero e o combate à violência.
A libertação das mulheres não beneficia só as mulheres, resulta em uma sociedade mais igual, todos devem participar dessa construção, os homens são determinantes."
Vera Lúcia
Vera Lúcia Barbosa nasceu em Eunapólis, no extremo sul da Bahia, tem 12 irmãos, e é militante do MST desde os 15 anos. Ela estudou até a 8º série do ensino fundamental e, além de ocupar a Secretaria de Políticas para Mulheres na Bahia, é dirigente nacional do MST.

Em conversa com o G1, ela fez um balanço das atividades realizadas pela secretaria desde maio de 2011, quando foi inaugurada. Vera Lúcia destacou dados sobre a atuação da mulher baiana no mercado de trabalho e sobre violência contra a mulher no estado.
De acordo com dados do Censo IBGE em 2010, há 7,1 milhões de mulheres na Bahia. Os homens são 6,8 milhões. Mesmo assim, a condição da mulher no mercado de trabalho da região metropolitana de Salvador, por exemplo, piorou em 2011, se comparada ao ano de 2010. O dado é de um estudo realizado pelo Sistema de Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), promovido pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), órgão vinculado à Secretaria de Planejamento do Estado (Seplan). O balanço revela que a participação das mulheres caiu de 51,3% (em 2010) para 49,3% no ano passado.

A secretária Vera Lúcia também destacou ações desenvolvidas pela SPM para diminuir os índices de violência contra a mulher na Bahia. O estado ocupa o segundo lugar no ranking de atendimentos do Ligue 180, serviço nacional que presta informações e recebe relatos de violência contra as mulheres. Segundo dados da secretaria, de janeiro a outubro doe 2011, foram registrados 53.850 atendimentos envolvendo mulheres baianas. O estado só perde em números para São Paulo, que lidera o ranking do Ligue 180, com 77.189 casos. Em 72% das situações registradas na Bahia, os agressores são os cônjuges das vítimas. Confira entrevista abaixo.

G1 - Em um ano de atividades quais foram as principais realizações da secretaria?
Secretaria - A gente conseguiu criar um planejamento estratégico, realizar a 3ª Conferência Estadual de Políticas para Mulheres, fechar dois eixos de discussão, a auatonomia da mulher e a violência contra a mulher na Bahia. Além disso, fechamos parcerias com outras secretarias, uma transversalidade com esses outros órgãos, o que é muito importante. As políticas públicas não dependem de uma secretaria só. A gente [a Bahia] é um estado que está crescendo na violência contra a mulher. A transversailidade com as outras secretarias faz parte da ação para combater isso.
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G1 - Qual a avaliação da colocação da mulher no cenário baiano? Qual o perfil econômico e social da mulher baiana?Nós [mulheres] temos uma inserção muito forte no mercado. Nós últimos três anos o índice de mulheres no mercado baiano, se comparado aos homens, vem diminuindo, e há algunas áreas que ainda não conseguimos entrar, como a indústria, por exemplo. Mas estar presente no mercado de trabalho já é um dado muito positivo.
G1 - A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado aprovou a igualdade salarial entre homens e mulheres no país. Aqui na Bahia essa desigualdade é muito praticada, há números?
A SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia) lançou uma pesquisa e tem minuciosamente esses dados. Segundo a pesquisa, a média de rendimento caiu tanto para homens quanto para mulheres, mas para nós [mulheres] caiu mais. Aumentou a distância entre o que o homem ganha e o que a mulher ganha. Essa medida [da comissão] vem em um momento bem oportuno, importante. Essa porcetagem mínima [da quantidade de homens que ganham mais do que as mulheres na mesma função], é imensa.
Para mim, essa prática [da desigualdade salarial] se deve a uma concepção cultural de que as mulheres produzem menos, é o sexo frágil, deve ficar restrita ao espaço da casa, é uma divisão sexual do trabalho. Mesmo que as mulheres trabalhem o mesmo tempo, na mesma função, e na mesma empresa, em alguns lugares consideram a a qualidade do trabalho do sexo feminino inferior ao do homem. Ainda existe a ideia de que a mulher deve ficar cuidando dos filhos e da casa. Atribuo esse pensamento a uma questão cultural que a gente tem que mudar. Estamos fazendo debate com todas as secretarias para transversalisar políticas que comtemplem essa conscientização também. Precisamos criar projetos próprios de autonomia e geração de renda das mulheres também.
G1 - Quais os principais tipos de discriminação aqui na Bahia?
A violência doméstica tem crescido muito aqui na Bahia. Em termo de denúncia, as mulhres estão mais politizadas estão levando o problema para fora do lar. Esse sintoma é bom. Antes isso era tratado como diz o ditado "briga de marido e mulher não se mete a colher", é problema do casal, a sociedade não se envolvia. O "Disque 180" é uma sinalização da sociedade de que a violência contra a mulher é um problema de todos, do governo, da sociedade. Acho que é por conta das mulheres estarem saindo mais. Temos ocupado diversas áreas, é um choque em uma sociedade machista. A violência no geral aumentou, e contra as mulheres também. As mulheres saíram mais de dentro de casa, o grau de escolaridade está aumentando, e elas estão se capacitando mais. É preciso preparar a sociedade para esse momento.
G1 - Quais os projetos previstos para esse ano?
Hoje [quarta-feira] eu estava em Brasília reunida com a ministra Eleonora Menicucci de Oliveira [Secretaria de Políticas para as Mulheres] e com o ministro Afonso Florence [Desenvolvimento Agrário]. Assinamos um termo de cooperação de projeto de inclusão produtiva das trabalhadoras rurais, que prevê regulamentação de documentação dessas trabalhadoras, emissão da nota fiscal, problemas das mulheres rurais e combate a violência. Acho esse o primeiro passo imporante que eu destacaria esse ano.
secretária vera lúcia barbosa (Foto: Paula Fortes/Divulgação)Além de ocupar a Secretaria de Políticas para Mulheres na Bahia, gestora é dirigente nacional do MST. (Foto: Paula Fortes/Divulgação)
G1 - O que a senhora acha do do projeto que prevê a proibição de financiamento público para bandas e artistas que incentivem a violência e o preconceito contra as mulheres?
Nós estamos junto. Fortalecemos a campanha da deputada Luiza Maia. Esse [das músicas e danças que depreciam a mulher] também é um aspecto importante que é sútil às vezes, mas a violência também é predominandte nas músicas, danças, violência não e só a que você bate. Algumas músicas e danças também são. A gente apoia o projeto de lei e reforça o que ele defende. É preciso mudar a cultura machista baiana.
G1 - Quais são os desafios que a mulher baiana ainda enfrenta? Pode se falar em uma emancipação feminina, o que falta para isso?
Há um inicio de uma emancipação. Precisa-se aprofundar as políticas e dimunir essa diferença estética. Trabalhar mais a questão da violência e do empreendedorismo para a mulher. Acho que temos muito o que fazer pela frente.

G1 - Há homens que participam da elaboração dessas políticas? Como foi a ação com os filhos de Gandhy no carnaval de Salvador esse ano?
Estamos trabalhando com todas as secretarias. Fazemos ações e campanhas nas quais os homens chamam para si o combate a violência. Achei importante eles abraçarem a campanha. A libertação das mulheres não beneficia só as mulheres, resulta em uma sociedade mais igual, todos devem participar dessa construção, os homens são determinantes. A violência contra a mulher, idependente da forma que é feita, atinge toda a família, causa trauma nas crianças. Toda sociedade deve se engajar nessa mudança. Precisamos trabalhar o respeito entre os seres humanos. Por fim, gostaria de deixar uma saudação a todas as mulheres pelo nosso mês e dizer que estamos aí todos os dias, trabalhando, mas esse é um mês ímpar para nós. Precisamos pensar nos desafios pela frente, superá-los. Uma mudança cultural e da mentalidade da sociedade é necessária para chamar a atenção para a constituição de uma sociedade mais igual.

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