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16 maio, 2012

Manaus sofre com a cheia do Rio Negro

Com cheia do Rio Negro, família 
de 11 pessoas divide um cômodo  (Marcos Dantas/G1 AM)
A cheia do Rio Negro afeta diretamente a vida de moradores dos bairros Glória e São Raimundo, na orla de Manaus. Mudança de hábitos e convivência com uma realidade difícil entram na rotina das pessoas. O rio passa a fazer parte da vida delas, elas passam a fazer parte do rio - e então se viram como podem. "Várias pessoas estão sofrendo e eu fui uma das que não receberam madeira suficiente", diz a dona de casa Ivone Nascimento, que como muitos moradores da região teve de levantar o piso de sua residência. A expectativa é que o nível do Rio Negro chegue nesta quarta-feira (16) a uma marca histórica, acima de 29,77 metros, nunca antes antigida. Faltam apenas 2 centímetros para que isso aconteça.

Do lado de fora da casa de Ivone, as pontes de tábua são improvisadas entre casas habitadas e abandonadas; vielas surgem, e o conjunto de residências se transforma em um labirinto perigoso para quem não conhece a área, onde pessoas e animais, fogem da força do rio, que avança e invade que há pela frente.

A dona de casa Ivone Nascimento, mora com mais 10 pessoas em uma residência que agora, devido a cheia, tem somente um cômodo (Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
A dona de casa Ivone Nascimento mora com mais
dez pessoas em uma residência que, agora, devido a
cheia, tem somente um cômodo
(Foto: Marcos Dantas / G1 AM)

Na casa de Ivone, todos agora dividem um cômodo só, onde dormem, tomam banho, fazem comida. Ela reclama que não recebeu a madeira necessária para elevar a casa toda, e por isso alguns cômodos tiveram que ser temporariamente interditados. "Somos 11 pessoas aqui, sendo duas crianças de menos de um ano", diz.

Ivone se emociona ao falar da vontade de deixar o local, e conta que animais perigosos ameaçam a integridade dos moradores da casa. "Eu quero sair daqui, não quero que meus filhos e netos passem por esse sofrimento. Perdemos coisas que lutamos muito para conquistar. Além disso, já apareceu uma cobra e um jacaré que quebrou o cano de um vizinho", conta.
Alcinéia Barbosa, mostra a casa da sogra, Ivone, que agora tem somente um cômodo (Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
Alcinéia Barbosa mostra a casa da sogra, Ivone
(Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
Alcinéia Barbosa, nora de Ivone, mora na mesma região e diz que se preocupa com a saúde dos filhos, que estão ficando doentes. "Não dá para se acostumar com uma situação dessa, temos muitas crianças aqui, e elas adoecem por entrar em contato com essa que água. As crianças estão com vômito, diarreia e febre", afirma.

Perto dali, o técnico em eletrônica Pedro Martins, de 45 anos, mora há 28 na casa que está completamente inundada. O filho de 22 anos, que é a única companhia dele, estava trabalhando. "Minha casa está a seis metros de distância do chão, e hoje está com água até a metade. Construí pontes para não ter que pisar na água, o banheiro é improvisado dentro de casa, e o esgoto, despejado no rio", diz.
O técnico em eletrônica Pedro Martins conta que sua casa está a seis metros do chão (Foto: Marcos Dantas / G1 AM)O técnico em eletrônica Pedro Martins conta que sua casa está a seis metros do chão (Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
A casa da empresária Marlene dos Santos, de 71 anos, apesar de ficar mais distante do rio que as dos vizinhos, também sofre com os efeitos da cheia. " Encaro com naturalidade, afinal, nós sabemos que todo ano o rio enche", diz ela, que busca fazer adaptações no imóvel. "Não temos o que fazer, a não ser pequenas medidas emergenciais, como o aterro que eu coloco. Na cheia de 2009, por exemplo, não conseguimos aterrar porque quando percebemos já estava tudo cheio de água, aí não deu mais tempo. Esse ano aterrei mais de meio metro, se não tivesse esses sacos com areia, pedras e barro não conseguiria entrar com o carro", conta Marlene. (Veja, abaixo, imagens da casa de Marlene antes e depois da cheia)
Marlene mora no local há 51 anos e diz que mesmo com a possibilidade de a água atingir a residência em cheias futuras, não tem vontade de se mudar. " Só saio obrigada, pelo meu gosto, não saio. Meus filhos nasceram aqui, eu com 13 anos vim para cá, minha mãe já chegou a morar aqui ao lado, o terreno é grande, difícil de se encontrar aqui em Manaus. Se algum órgão determinar que eu tenho que sair, e me indenizar, como tem que ser, eu saio, se não, eu fico, e se ficar é um grande prazer", diz.
'Só saio obrigada', diz empresária que não teme que próximas cheias inundem sua casa (Foto: Marcos Dantas / G1 AM)'
Só saio obrigada', diz empresária que não teme que
próximas cheias inundem sua casa
(Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
A empresária morava no município do Careiro, a 24 km de Manaus, e foi para o local quando se casou. Ela diz que nos períodos de seca não tem do que reclamar. "Quando está seco fica tudo certo, é um lugar ótimo para se viver, com uma vista maravilhosa do rio. E como gosto muito de plantas, tinha um jardim na frente de casa que a água matou, mas quando secar eu planto de novo. E se vier outra cheia, matando o jardim de novo, pode ter certeza que ele vai ser plantado mais uma vez", diz.

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