A cheia do Rio Negro afeta diretamente a vida de moradores dos bairros Glória e São Raimundo, na orla de Manaus. Mudança de hábitos e convivência com uma realidade difícil entram na rotina das pessoas. O rio passa a fazer parte da vida delas, elas passam a fazer parte do rio - e então se viram como podem. "Várias pessoas estão sofrendo e eu fui uma das que não receberam madeira suficiente", diz a dona de casa Ivone Nascimento, que como muitos moradores da região teve de levantar o piso de sua residência. A expectativa é que o nível do Rio Negro chegue nesta quarta-feira (16) a uma marca histórica, acima de 29,77 metros, nunca antes antigida. Faltam apenas 2 centímetros para que isso aconteça.
Do lado de fora da casa de Ivone, as pontes de tábua são improvisadas entre casas habitadas e abandonadas; vielas surgem, e o conjunto de residências se transforma em um labirinto perigoso para quem não conhece a área, onde pessoas e animais, fogem da força do rio, que avança e invade que há pela frente.
dez pessoas em uma residência que, agora, devido a
cheia, tem somente um cômodo
(Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
Na casa de Ivone, todos agora dividem um cômodo só, onde dormem, tomam banho, fazem comida. Ela reclama que não recebeu a madeira necessária para elevar a casa toda, e por isso alguns cômodos tiveram que ser temporariamente interditados. "Somos 11 pessoas aqui, sendo duas crianças de menos de um ano", diz.
Ivone se emociona ao falar da vontade de deixar o local, e conta que animais perigosos ameaçam a integridade dos moradores da casa. "Eu quero sair daqui, não quero que meus filhos e netos passem por esse sofrimento. Perdemos coisas que lutamos muito para conquistar. Além disso, já apareceu uma cobra e um jacaré que quebrou o cano de um vizinho", conta.
(Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
Perto dali, o técnico em eletrônica Pedro Martins, de 45 anos, mora há 28 na casa que está completamente inundada. O filho de 22 anos, que é a única companhia dele, estava trabalhando. "Minha casa está a seis metros de distância do chão, e hoje está com água até a metade. Construí pontes para não ter que pisar na água, o banheiro é improvisado dentro de casa, e o esgoto, despejado no rio", diz.
próximas cheias inundem sua casa
(Foto: Marcos Dantas / G1 AM)
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